Quarentena
No final de 2020,
quando escolherem a palavra do ano, será certamente quarentena.
Este Covid-19
chegou mesmo em força e está a provocar um tsunami por todo o mundo.
Há quem já tenha
feito grandes dissertações sobre o quanto esta epidemia apareceu para nos fazer
pensar nas verdadeiras prioridades da vida, no quanto andámos enganados este
tempo todo, sempre a correr de um lado para o outro, cheios de tarefas,
horários de trabalho intensivo e pouco tempo para a família e para nós.
Concordo. Mas não
foi preciso existir o Covid-19 para eu ter chegado a essa conclusão.
No meu caso adoro
trabalhar. Adoro ter tarefas e sentir-me útil em sociedade. E tenho a sorte de
fazer o que gosto. Muitas vezes confesso que até sobreponho essa sensação
àquela que me dá o prazer de ser mãe. Mas penso que as duas se completam e são
essenciais para uma vida plena. O difícil sim é equilibrar ambas.
Se antes não
existia equilíbrio, agora também não.
A consciência e a
responsabilidade mandam-nos ficar em casa. Ter as preocupações apenas mais básicas
da vida: saúde e alimentação. Não socializar, não passear e não ver as
maravilhas da natureza que nos fazem, numa altura “normal”, relaxar do dia-a-dia.
Desculpem mas não penso que isto seja tão bom que por isso nos faça pensar que estávamos
mal antes e que tínhamos as prioridades trocadas.
O que a nossa sociedade
tem de errado já há muito tempo, é de facto o horário diário de trabalho.
Aqui em casa
somos uma família de 4. Sendo que o dia não estica e temos de dormir umas 8 horas, e estamos no trabalho outras 8
(na melhor das hipóteses), se somarmos 1 hora para deslocações casa-trabalho, 1-2 horas para tratar das refeições (neste caso, pequenos almoço e jantares), 1
hora para os banhos, 1 hora para TPC's e tirando ainda as actividades que os miudos costumam ter nos nossos dias sobra muito pouco para tudo o que falta fazer ou
tudo o que pode ter corrido mal - sair mais tarde do trabalho, apanhar
transito, tratar da cozinha ou das
roupas que não podem esperar pelo fim-de-semana. E de facto fica para trás o mais
importante – brincar, conversar e socializar com quem mais gostamos e, tempo
para nós próprios. Não é à toa que eu nem falei em ir ao ginásio… seria
arranjar 1 hora que já não existe pelos meus cálculos… lol
Sei que é
complicado. Muitas vezes trabalhamos 8 horas por dia e é pouco, tendo em conta
todas as tarefas que o nosso trabalho exige. Mas existem muitas vezes picos de
trabalho e necessariamente outras alturas em que estamos mais calmos. Se
durante os picos de trabalho saímos muitas vezes mais tarde, para alem das 8
horas, também é verdade que quando não estamos nessas alturas em regra não nos
é permitido ou visto com bons olhos sair mais cedo.
O segredo para mim está na
flexibilização. Ter flexibilidade de horário, poder fazer teletrabalho alguns
dias por semana ou quando necessário. Tenho a certeza que iriamos conseguir um equilíbrio
muito maior entre a vida pessoal e a profissional.
Com isto iriamos ser mais
felizes e a sensação de felicidade consegue milagres… e acredito sinceramente
que iriamos ser muito mais produtivos a nível de trabalho, mesmo não
trabalhando as 8 horas diárias em alguns dias.
Estes meus dias de quarentena têm sido assim. Como eu gostaria de ter alguns por semana numa altura normal (mas com miudos na escola claro!). Acordar e ficar em casa a trabalhar. E trabalhar com disciplina sim. É assim que tem sido. Tanto que não sinto qualquer aborrecimento e o tempo tem passado a correr! Tenho conseguido fazer tudo a que me proponho e se por acaso os miudos precisam de mais atenção e não consigo dar o meu melhor durante o "horario de trabalho", com flexibilidade (palavrinha mágica) faço mais tarde.
Não tenho no entanto conseguido chegar aos calcanhares das mães profissionais das redes sociais. A minha filha mais nova não tem passado o dia a fazer trabalhos manuais, nem a aprender letras e numeros. Porque para isso eu teria de a acompanhar praticamente todo o tempo. O meu filho tambem ainda nao fez todos os trabalhos e fichas que a professora vai enviando porque muitas vezes precisa de apoio tambem e eu estou a trabalhar diariamente.
Isto não é nem nunca será uma situação ideal mas com equilibrio tudo tem corrido perfeitamente aqui em casa. Já estamos no 12º dia em casa fechados os 4 e não há discussões, aborrecimentos e nem tao pouco me sinto perto de ficar maluca.
Como acho (infelizmente) que isto está para durar, veremos se daqui a 30 dias continuo assim tao fresca!!
Mas espero ansiosamente pelo dia em que possa finalmente começar a ler livros ou a ver Netflix porque estou em casa em quarentena sem nada para fazer... esse dia ainda não chegou por estas bandas!!